Faculdade de Medicina da UFRGS

A TUBA AUDITIVA E O EMAGRECIMENTO RÁPIDO


INTRODUÇÃO - A manutenção da silueta, a quebra do tabu renascentista de pintar a mulher de tipo gordinho e redondo, a propaganda do manequim magrinho e esbelto, e a associação da obesidade com a incidência de doenças sistêmicas tipo hipertensão, diabetes e das coronárias, fez com que surgissem em todo mundo os mais diversos e bizarros tratamentos do peso corpóreo excessivo. Organizações são formadas, em estilo comercial, procurando explorar a obesidade que incide cada vez mais, principalmente no mundo ocidental. A terapêutica tem evoluído notavelmente no setor, assim como se estuda os efeitos iatrogênicos destes medicamentos.A função da tuba auditiva, que é um tubo orgânico fechado, unindo a rinofaringe ao ouvido médio, e manter o arejamento adequado da caixa timpânica. A tuba abre-se durante a deglutição realizando este ato cinco vezes por minuto quando o indivíduo está em vigília, e, uma vez, automaticamente, durante o sono. O mecanismo é ativo durante a deglutição, mas o fechamento é passivo e depende fundamentalmente da camada gordurosa que preenche as paredes laterais da porção membranosa e do óstio tubário.A finalidade deste trabalho é comunicar a disfunção tubária em pacientes que se submeteram a tratamento contra obesidade, e fazer considerações sobre o aparecimento iatrogênico desta patologia, extremamente desagradável e até certo ponto incapacitaste. Estudamos oito pacientes, sendo dois do sexo masculino e seis mulheres, com idades de 19 a 34 anos, quatro solteiros e os demais casados, que eram obesos e tinham indicação médica para tratamento de seu estado clínico. Três já haviam tentado tratamento com dieta, ginástica e medicamentos, mas não conseguiram diminuição apreciável de peso. Todos procuraram clínicas de emagrecimento e foram submetidos a tratamento que constou de dieta hipocalórica, fizeram injeções diárias de hormônios (sic), uso de anfetaminas, diuréticos, ginástica e ansiolíticos. Todos os pacientes perderam peso apreciável segundo a tabela n° 1.
A perda média foi acima de 15 quilos entre 45 e 65 dias de tratamento. Todos os pacientes procuraram nosso consultório após o tratamento, dizendo que nada sofriam antes a não ser de peso excessivo. Seis já haviam sido submetidos a exame otorrinolaringológico, mas nada havia de patológico em seu aparelho auditivo. Contavam que desde que emagreceram, geralmente após a metade do tratamento, começaram a sentir peso na cabeça, sensação de ouvidos fechados, autofonia, zumbidos de vários tipos e sentiam os movimentos respiratórios se refletirem nos ouvidos. Dois acostumaram-se a manter os músculos mastigatórios contraídos e à noite rangiam os dentes (bruxismo), nesta situação sentiam alívio dos sintomas otológicos. Não se queixavam de diminuição da acuidade auditiva nem de tonturas. 0 maior incômodo era a retumbancía da voz, sentiam na cabeça e ouvidos quando falavam, sendo que um dos pacientes professor, estava licenciado pois não suportava tal sofrimento. A maioria preocupada e achavam o sofrimento era pior que a obesidade. Ao exame clínico estavam normais a não ser a flacidez acentuada, duas pacientes preparavam-se para fazer plástica do abdome e do pescoço. Um dos pacientes relatava que ao deitar melhorava dos sintomas otológicos. Ao exame otoscópio com microscópio, a membrana timpânica de todos estava normal, com presença do trígono luminoso e sem líquido na caixa timpânica. Mas em todos, movia-se sincronicamente com os movimentos respiratórios, em alguns com maior facilidade que outros. Não havia uma relação direta entre a amplitude dos movimentos da membrana, durante a respiração e a quantidade de peso perdida pelos pacientes. A audiometria realizada com audiometro Maico MA-17 estava normal. O estudo impedanciométrico mostrou em todos os pacientes, um síndrome típico de tuba aberta, com tímpanometria normal. Nos dois casos com bruxismo havia modificação da curva tímpano métrica, o que já foi descrito em trabalho anterior. Explicamos aos pacientes que a única maneira clínica de solucionar seus problemas seria adquirir novamente peso e verificar o que aconteceria sob o ponto de vista áudiológico. Suspendemos a dieta, os diuréticos que alguns ainda permaneciam tomando e mantivemos os ansiolíticos. Um mês após, dois pacientes retornaram ao consultório, dizendo um ter recuperado oito quilos e outro 12, tendo melhorado dos sintomas otológicos. Submetidos a impedanciometria não havia mais a síndrome típica de tuba aberta. Os demais não retornaram ao nosso serviço. O emagrecimento rápido é causa comprovada de disfunção do mecanismo de fechamento tubário, que é ocasionado pela perda do tecido adiposo que envolve óstio tubário na rinofaringe e das paredes membranosas deste tubo de comunicação entre as vias aéreas superiores e o ouvido médio. A luz permanece fechada pelo efeito conjunto da massa gordurosa de Ostmanri, da porção lateral do músculo pterígoideo interno e do levantador de palato. Na condição de repouso a tuba está fechada. A abertura é dinâmica, realizada fisiologicamente durante a deglutição, ou pelas manobras de Valsalva e Toynbee e foi estudada por Proctor e Donaldson. Todos os pacientes sofriam de um síndrome de tuba aberta. Bartolomeo Eustáchio em 1562 afirmou que a tuba estava sempre aberta, mas Cooperem 1801 Toynbee em 1853 e Politzer estudaram e demonstraram que ela só se abria em determinados momentos, e era necessária para a manutenção das funções transmissoras do som da caixa timpânica, através da equalização das pressões e da atividade ciliar que orienta a drenagem das secreções para a rinofaringe. Os sintomas foram estudados por Moore e seu tratamento por Simonton, Pulec e Simonton utilizaram injeções de teflon nas paredes do óstio tubário procurando diminuir - lhes a luz. Os pacientes com tuba aberta contam uma história de perda rápida e excessiva de peso, alteração neuro-musculares centrais e pós acidentes traumáticos ou vasculares, esclerose múltipla, poliomielite, parkinsonismo, nos casos de divisão retro-gasseriana por neurectomia do trigemeo e nos pacientes com respiração profunda e ansiosa que se mantem prolongadamente, como nos enfisematosos. Os pacientes estudados neste trabalho somente apresentavam emagrecimento rápido e os sintomas surgiram durante o tratamento da obesidade. A melhora pode ser obtida quando o paciente deita, o que aconteceu somente em um dos pacientes. A diminuição do tecido adiposo profundo, perivisceral e retroperitoneal não obedece aos mesmos padrões do panículo adiposo subcutâneo. Sabe-se também que o acúmulo gorduroso junto a determinados órgãos ajuda a manter os dispositivos protetores e funcionais, que quando removidos, por tratamentos que aceleram sua absorção, podem provocar disfuncionamento nestes órgãos. Durante o emagrecimento por desnutrição, desidratação, anemias e neoplasias, o tecido gorduroso peritubário é mantido e não surgem disfunções da tuba de Eustáchio. A massa gordurosa de Bichat da face é absorvida somente em casos extremos de distrofia por desidratação prolongada, mas é a primeira a reaparecer durante a recuperação, desaparecendo o "aspecto de velho" que assumem estas crianças. Nos tratamentos de emagrecimento rápido, entretanto, estes problemas podem aparecer como é o caso dos pacientes deste trabalho. Pulec relata que em indivíduos com carcinoma de próstata e que foram tratados com estrógenos, pode surgir problemas de disfunção tubária, mas não explica o mecanismo. Por outro lado, a maioria destes pacientes, geralmente são rotulados de neuróticos, principalmente após terem tomado durante algum tempo anfetaminas. Nos pacientes que estudamos a perda de peso foi acentuada e rápida, mais ou menos 15 quilos em 45 á 65 dias, e verificamos que em dois casos, após adquirirem novamente peso, melhoraram dos sintomas.O tratamento da obesidade deve ser realizado lentamente e com atenção nos sintomas otológicos dos pacientes, a exemplo do que se realiza rotineiramente em outros sistemas orgânicos. No momento em que algum paciente sentir autofonia e outros sintomas áudiológicos, deverá ser avaliado impedância metricamente afim de constatar problemas deste tipo. Uma vez diagnosticado um síndrome de tuba aberta suspender o tratamento. Shapiro advoga tratamento com ansiolíticos e acha que insuflação nasal de pó de ácido bórico e salicílico poderiam melhorar o quadro. 0 que não cremos e nem outros autores comprovaram sua eficácia. A experiência sobre o ânimo psíquico dos pacientes estudados mostrou nos que estavam mais inconformados com seu problema otológico do que com sua obesidade. Dr. Nicanor Letti.

5 comentários:

  1. Muito bem colocado! Parabéns, isto me ajudou a esclarecer algumas dúvidas. Os sintomas são muitos parecidos com os meus, porém não faço dieta, sinto estes sintomas quando faço esforço físico.

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  2. Estou com a síndrome mas não consigo identificar a causa

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  3. cinto retumbância no ouvido não sei a causa

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  4. impressionada com essa matéria, estava pesquisando sobre esse sintoma, estou sofrendo de anemia profunda e perda de peso rápido,em varios momentos ouço minha voz "saindo do ouvido" e lugares com barulho ou conversar tem me deixado bastante irritada. Isso explica em muito o que estou sentindo, vou marcar um otorrino

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  5. Estou na mesma, mas não por emagrecimento.... Já fui em vários otorrino mas nenhum consegue me dar um tratamento eficiênte

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